julho 29, 2007

"TURBULÊNCIA" para pensar...

Quando comecei a viajar a trabalho, tive a oportunidade de conhecer vários Estados e Cidades do Brasil, e para chegar até o local onde deveria dar as aulas dos cursos, tinha que usar vários tipos de transporte.

A maioria das pessoas acham maravilhoso viajar de avião e concordo que realmente é algo extraordinário, pois é o meio de transporte que, estatísticamente, é mais seguro e que nos permite realizar trabalhos que levariam muito mais tempo, acarretando um gasto maior, tornando determinados serviços inviável se não tivéssemos esse meio de transporte que reduz bastante o tempo gasto nas viagens.

Mesmo sabendo de tudo isso, não posso negar que "morro" de medo de avião, mas viajei durante quase seis anos trabalhando, usando na maioria das vezes esse meio de transporte e vários tipos diferentes de avião.

Em uma dessas viagens, de volta para casa, aproveitando a cervejinha liberada sempre no final dos trabalhos, tentei manter a linha, principalmente na decolagem (é lógico que entortei os dedos e torturei o colega ao lado, falando sem parar para acalmar os nervos).

Isso me faz lembrar um programa na televisão (TV Pirata), que apareceu a atriz Débora Block entrando num avião, com toda a corda, e se sentando entre duas pessoas.

Com o nervosismo, começou a conversar com as duas pessoas, de uma maneira totalmente compulsiva.

Aí, de repente, essas pessoas chamaram as aeromoças, e quando elas atenderam, eles falaram: - "Por favor comissárias, poderiam avisar a essa senhora que ela está na "ala dos não falantes?"

Quando esse programa passou, eu estava na sala com toda a família e é lógico que zuaram comigo, isto é, não perderam a oportunidade de fazer gozação pelo fato de eu falar por demais da conta.

Acabei levando na esportiva e muitas vezes, quando marcavam a poltrona, eu solicitava a ala dos falantes e dos fumantes (eu não fumava, eu comia o cigarro de medo) e sempre no fundão do avião, pois na minha cabeça era o lugar mais seguro do avião.

Antes que eu escorregue para outro assunto, voltemos a essa viagem em questão.

É lógico que depois de umas cervejinhas e com o friozinho do ar condicionado dá aquela vontade imensa de fazer "xixi".

Toda vez que eu tinha que me levantar para usar o banheiro, eu já ia rezando, morrendo de medo de ter que ficar naquele cantinho tão pequeno e desconfortável (a impressão que eu tinha, é que ao sentar no vaso, poderia ser sugada para dentro dela (coisa de louco), sem comentários)).

Mas, tudo bem, lá fui eu.

Só que, no meio daquele "xixi" gostoso, começou a balançar tudo, solavanco pra cá e pra lá e pensei, ou estamos passando por uma turbulência ou esse monstro tá caindo.

Eu não posso dizer que sou uma grande mulher, mas sou uma mulher grande.

O banheiro realmente ficou mais pequeno ainda naquele momento. Eu não sabia se saía ou se ficava lá dentro.

Quando fui levantar a calça comprida, esqueci de levantar a calcinha primeiro, não achava o feixe da calça; eu já não sabia se devia por a blusa pra dentro ou deixar a blusa para fora.

Gente! Eu não conseguia sair dalí e fiquei desesperada!

Quando finalmente começou a diminuir a turbulência, consegui abrir a porta do banheiro e dei de cara com a aeromoça.

Aí percebi que havia sobreviventes e a aeromoça, provavelmente notando meu estado, me acompanhou até o meu lugar, me acalmando e me ajudando a terminar de me vestir.

Depois de me sentar na poltrona, me lembrei de uma conversa entre eu, minha mãe e meu irmão, e foi aí que comecei a rir, mas a rir tanto, que depois tive que me explicar para os companheiros o motivo do acesso de riso.

Minha mãe não tem medo de avião, simplesmente ela tem síndrome do pânico só de falar nele!

Então, em uma das vezes que ela estava preocupada, dizendo que era melhor eu largar o emprego por causa das viagens, antes que acontecesse um acidente, o meu amado irmão contestou e disse:

- "Mãe! Você já pensou que chique!

As pessoas vêm e perguntam: - De quê morreu sua irmã?

Então eu respondo:

- Morreu num acidente aéreo, pela varig, vasp ou tam. Mãe, veja bem! É muito diferente que ter que responder:

- Ah! Minha irmã? Ela morreu num acidente com o ônibus circular Cota 200 à caminho da Escola Técnica Federal de Cubatão (aquele tipo de ônibus lotado, que anda sempre inclinado para a direita e com aquele rala e rola, com cheirinho de desodorante vencido).

Mas o problema é que, nessa viagem em questão, no momento da turbulência, eu estava presa no banheiro do avião. E é lógico que eu tinha que rir, pois quando perguntassem de que morreu sua irmã, eles teriam que responder:

- "Morreu num acidente aéreo e foi encontrada entalada no banheiro do avião".

Não dá para aguentar!

Será que seria chique mesmo?

Tenho lá minhas dúvidas...



Queridos leitores! Esse texto foi escrito em agosto/2007 e, depois que acabei de reescrevê-lo, percebi que, apesar do medo que eu tinha, eu confiava realmente na segurança em viajar de avião, achava que se acontecesse algum acidente, eu teria como sobreviver, ou como ser encontrada, foi isso que senti.

Tenho saudades das viagens, das aulas, das pessoas, dos vários Brazis que existe no nosso País, foi uma excelente pós-graduação.

Mas, diante de todos esses acontecimentos na aviação, em menos de um ano, acho que se tivesse ainda trabalhando, com certeza seria um pânico total familiar, pessoal. Será que eu continuaria nesse emprego?

Já pensaram, ter que viajar a trabalho, toda a semana, com malas e livros mil, precisando chegar no horário, sempre no mesmo dia da viagem, meu Deus, seria um caos total.

Não consigo culpar ninguém, esses acidentes me abalaram por completo, me sinto impotente diante dessa situação terrível.

Antes, a gente fazia graça, hoje não dá mais pra confiar, somente naquele Amigão lá de Cima, o nosso maior advogado, Deus!

Penso nas famílias órfãs, nos que trabalham na aviação, naqueles que viajam para terem seu ganha-pão, que precisam, sem ter como mudar de emprego, tendo que enfrentar as filas, os atrasos, o medo, toda essa situação, sem solução e explicação!

A todos eles oro, oro muito, não vejo como posso ajudar. Talves esse meu relato exprima a confiança que existia anteriormente, e desejo, de coração, que possamos, novamente, confiar na aviação.

Capítulo VI do Livro em andamento "MEUS CASOS", escrito em agosto/1997
(porque será que encontrei, justamente, dez anos depois, esse capítulo?)

Um comentário:

Cristian Willians disse...

Esse Tio Jacyr é fogo.. sempre com suas piadinhas...