julho 14, 2007

"PERFIL DA CRIS"


PARA LER ESSE CAPÍTULO, LEIA AS SEGUINTES INSTRUÇÕES:

INDICAÇÃO: Esse capítulo é indicado para pessoas polivalentes, perfeccionistas, estressadas, maníacas, ilimitadas e cheias de amor para dar (menos para si mesmas):

CONTRA INDICAÇÃO: Esse capítulo não é indicado para pessoas normais, calmas, equilibradas:

REAÇÕES ADVERSAS: Esse capítulo pode provocar estresse em último grau, depressão, mudanças de humor, acesso de raiva e vontade de rasgar o livro. Por isso, leia tendo ao seu lado antidepressivos, tranquilizantes ou umas latinhas de cerveja, drinks, como preferir.


Tenho a impressão que este será um dos capítulos mais difíceis, pois é líquido e certo que ficarei tão brava comigo mesma que, se eu olhar no espelho, pego minha bengala e acabo comigo mesma. Estou escrevendo até com a minha caneta tinteiro, pois se escrever com a esferográfica, sai de baixo!!! (Vou comer todas as letras, palavras, vírgulas, etc.).

Quando me sento para digitar no computador é um problema, pois brigo demais com ele por não ter me acompanhado (tenho que por a culpa em alguém).

É lógico que eu gosto muito de mim, mas, depois de tudo que aconteceu, tenho lá as minhas dúvidas. Deveria ter pedido à minha psicóloga que tratasse desse assunto em meu lugar.

Mas quem sabe eu me vendo fica mais claro para mim onde, o que e quanto devo mudar (acho que não tenho mais tempo para tanto). Não quero dizer com isto que eu não goste de mim; é que no momento tenho que dar a mão (ou o corpo todo) à palmatória.

Tem sido um esforço bastante dolorido, quase que impossível, admitir que eu era e que, ainda hoje, não sou normal...

Diria que a MARIA CRISTINA É, FOI E TALVEZ SERÁ POR DEMAIS "ILIMITADA".

Acho que esse "ilimitada" arrasou com a Cris.

Mesmo estando numa cama a mais de 500 dias (nessa última recaída), continuo me cobrando e pensando mais na família, nos amigos e no mundo do que em mim mesma.

Aonde já se viu uma mãe, dona de casa, professora, filha, amiga dos menos favorecidos estar numa cama? Isso é inaceitável!

Tenho sofrido demais, demais, demais da conta!

Jamais a Maria Cristina iria tomar café da manhã na cama, pois isso seria um absurdo. Ela jamais se permitiria a isso; com certeza consideraria um luxo e não um prazer. Prazer para ela era servir e jamais ser servida.

Não bastava fazer um almoço tipo arroz, feijão, bife e salada. Não! Tinha que ser perfeito, com vários tipos de pratos, sucos e ainda a sobremesa.

A mesa tinha que estar com a toalha sem manchinha alguma, como os pratos, copos e talheres brilhando.

Ah! E as crianças então! A sorte é que quinze dias antes de nascer meu primogênito Henrique, eu já contava com a ajuda da amiga sempre fiel alagoana Irene e também de minha super, super maravilhosa "MÃE", as quais acabavam fazendo parte de minhas neuroses.

Conseguia realizar várias tarefas ao mesmo tempo, e tudo tinha que ser perfeito. Por mais de quinze anos, minha família era Walter (meu marido), Henrique, Gabriel, Samuel (meus filhos), Tia Irene e Tio Leopoldo (dois irmãos solteiros, velhinhos e tios de Walter), a secretária fiel Irene, os agregados diversos e minha mãe, sempre presente, Naná e, não esquecendo também dos cachorros, gatos, ramisters, peixinhos, tartarugas, passarinhos e outros.

Preparava aulas e estudava meus teoremas, cozinhava, lavava roupas, educava as crianças, fazia almoço, atendia telefonemas, tudo ao mesmo tempo. Já acorda com música bem alta, tanto, que os vizinhos do prédio ao lado faziam pedidos para tocar suas músicas preferidas como se eu fosse também uma emissora de rádio.

Ah! E os meus protegidos, então! Várias vezes Walter chegava em casa e encontrava filhos a mais espalhados pela casa. Fiquei com toda a herança de minha sogra, que nada mais era que várias pessoas excluídas e esquecidas pela sociedade, doentes e necessitados.

Não consigo me esquecer que, em plena Lua de Mel, abrigamos uma mulher da vida (que tinha apanhado com uma garrafa quebrada e que tinha sido dopada), e também uma moça esquizofrênica que estava perdida da família.

Ainda hoje tenho contato com ma delas. As pessoas perguntavam: - Você não tem medo que elas façam algum mal a vocês?

E eu respondia: - Sinceramente, não tive tempo de pensar nisso.

Os meus filhos nunca dormiam sozinhos, mas é lógico que a culpa era minha.

Tocava violão, cantava minhas músicas (também sou compositora!) e contava estórias até que os três se cansassem e dormissem. Aí, quando eu queria sair com meu marido ou trabalhar, sobrava para minha mãe, Irene e Tia Irene e eu, achava a coisa mais normal e bonita do mundo.

Nunca usei uma fralda descartável. As que eu ganhava de presente, usava nos meus "agregados" como "curativos" para drenar feridas, nos cortes de cirurgias, câncer, etc..

Não tinha tempo de me olhar no espelho. Cabelos amarrados (rabo de burro), sem maquiagem, sem vaidade nenhuma.

Todos os dias de minha vida, desde que me lembro por gente, foram extremamente preenchidos, não esquecendo também das noites mal dormidas. Nunca tive um horário regular para dormir e acordar.

Nunca consegui assistir à TV de mãos paradas: tinha sempre um trabalho manual como crochê, bordado, tricô, costura, etc., etc., etc..

Quando saía para dar aulas, nunca me permiti dar aulas normais, devagar.

Não, de maneira alguma, pois achava que, sendo Professora de uma disciplina exata (Matemática) e sabendo que 80% dos alunos tinham medo, pânico e raiva da matéria, eu tinha que me doar ao máximo, tornando as aulas compreensíveis, alegres, divertidas, inteligentes e, quando um aluno ficava com dúvidas achava sempre que o problema ou falha era minha.

Tive oportunidade de viajar pelo Brasil dando aulas de Estatísticas de Saúde, em Cursos de Especialização.

Foi quando entrei em crise existencial, quando a ficha, ou melhor, o cartão, começou a cair.

Não aproveitei para mim nem 5% desse tempo. Tive várias crises de choro.

Não conseguia me definir, me encontrar. Nunca tinha tido, até então, a oportunidade de ficar sozinha. Comecei a enxergar as coisas que estavam erradas em minha vida e não aceitava, de maneira alguma, tentar mudar a situação; achava que não era correto.

Tomar um banho de mar, almoçar num bom restaurante, tomar cerveja, comer um bom peixe, deslizar sobre as dunas em Natal, tudo para mim não estava completo, pois minha família não estava usufruindo junto comigo.

Meu Pai! Me sentia uma pecadora e tanto! Não admitia de forma alguma que a Cris tivesse tempo para ela mesma, ou seja, que ficasse somente com sua própria companhia.

Foi nessa época que comecei a me conhecer, a sonhar mais, a ter desejos e sentir a Maria Cristina à flor da pele. Gente! Foi extremamente complicado e dolorido para mim. Fiquei demais dividida. Mas o mais interessante é que me sentia, apesar das descobertas, uma pessoa feliz, com amor transbordando e, cada vez que saía de casa, parecia que o coração ia explodir de saudades e, quando voltava, me sentia culpada por ter estado fora.

Meu Deus! Me achava na obrigação de fazer tudo para compensar a minha ausência e assim, o estresse foi ganhando espaço, crescendo à toda velocidade.

Sempre fui ilimitada para tudo. Quando íamos a um baile ou a uma festa, eu era a última a chegar e também a última a me retirar (saia sempre com os garçons ou quando sobravam somente os donos da casa).

Quando a festa era em minha casa, também era anormal. Geralmente começava ao meio dia e durava até as duas da madrugada, regada com muita música, dança, alegria, piadas...

Apesar da minha vida ter sido muito movimentada, tenho saudades, saudades, saudades...

Sei que é difícil para vocês acreditarem e entenderem.

Trabalhei, me diverti e amei imensamente. Fazia sempre das tragédias uma comédia.

Muitas vezes dizia que cuidar dos meus velhos, ter um tanque cheio de roupas para lavar, me divertir, cuidar dos doentes, dançar, cantar era tão agradável quanto fazer amor.

Amei intensamente cada momento de minha vida, apesar de saber hoje o quanto me custou.

O que me conforta hoje, mesmo estando acamada, é que ao olhar para trás posso perceber quantas coisas eu já fiz. Tenho a impressão de já ter vivido mais de oitenta anos.

De qualquer maneira, tenho saudades da Maria Cristina. E como!

Hoje minha vida está limitada, dependo da família para quase tudo.

Vejo o sol na janela e não tenho forças para sentir seu calor.

Cada atividade que faço tenho como sobremesa "A DOR".

O que me conforta tem sido o resultado das sementes que plantei.

Não tenho como me arrepender, fica muito difícil.

A única coisa que posso tentar fazer daqui para diante é me amar mais.

Todos sofrem por eu estar nessa situação a tanto tempo, mas costumo dizer que Deus provavelmente está me poupando e me sinto cada vez mais pertinho Dele. Não sei se TEREI TEMPO DE TER UMA VIDA NORMAL.

Sou idealista demais e também vivo tentando consertar o mundo e sofro intensamente.

Outra característica minha é que não me perdôo por nada que tenha feito de errado. Me cobro demais e não admito meus erros. Sempre encontro descupas para os erros dos outros, menos para os meus. É dose!

Recebí vários apelidos devido as minhas atividades como Madre Teresa de Calcutá, Santa Terezinha, flecha ligeira, pilhas duracel, pilhas amarelinhas, Mãe Leonarda (novela Guerra dos Sexos), professora porra louca. Muitas vezes, tanto os alunos como os amigos gritavam: - "DESLIGA ESSA MULHER DA TOMADA!"

De qualquer maneira, valeu a pena, com certeza. Tudo na vida não deixa de ser um aprendizado.Mas será que valeu mesmo? Será? Acho melhor deixar para vocês a árdua tarefa de analisar. ACEITO SUGESTÕES


"NA CAMA COM CRIS"


E.T.: Por incrível que pareça, quando terminei este capítulo, passei muito mal, fadiga, cansaço, sensação de desmaio, fraqueza, cólicas...

Gente, não consegui fazer mais atividade nenhuma...ufa!!!


Esse capítulo foi escrito em: 23/08/2002 às 9:00hs, 13/09/2002 às 11:30hs, 15/09/2002 às 12:30hs E HOJE, 14/07/2007 ÀS 16:59HS


COMO ESTOU HOJE?

Em tratamento, com ressaca fibromiálgica, fadiga, dores terríveis, tomando diversos medicamentos, tendo duas horas/diárias de energia, fazendo hidroterapia, administrando meu lar, recebendo e fazendo amigos, enfim, ESTOU VIVENDO! Na cama? E daí!


2 comentários:

lyn disse...

"ANTES DE AGIR"

Há cinco atitudes capazes de nos trazerem felicidade:
Perdoar sempre.
Fazer todo o Bem possível.
Ser fiel à verdade.
Cultivar a prece.
Caminhar servindo sempre.

E há cinco comportamentos que le­vam ao sofrimento:
Alimentar a mágoa.
Fomentar a agressividade.
Acreditar na impiedade.
Fugir da prece.
Vingar-se.

É possível que, ainda hoje,
te encon­tres perante uma destas situações.
Antes de agir, lembra que felicidade
ou sofrimento resultarão da tua livre op­ção.

ENERGIA POSITIVAS PARA VOCÊ!!!

Cristian Willians disse...

Cris até chorei lendo esse texto seu, eu também era assim ativo meu dia começava as 5 da manhã e acabava por volta da meia noite quando chegava da faculdade, agora sou um "doente" que se acorda antes das 9 fica mal e tem que dormir tarde pois está com dores... durante o dia preciso da cama com frequÊncia mas ainda bem que tenho vc no meu mundinho ou melhor no nosso mundinho!!!!