julho 20, 2007

"ESTRESSE, DEPRESSÃO? EU, HEIM!!!




PARTE I: Acho que o primeiro aviso de meu corpo, foi dando aulas em Cuiábá/Mato Grosso, em 1990 ou 1991, não tenho muita certeza.
Estava dando aulas de Bioestatística para uma das turmas do Curso de Especialização em Saúde Pública quando, de repente, comecei a ver a sala de aula girando e a visão turva (o pior era que eu não havia bebido nada).
Parecia que o quadro negro ia cair em cima de mim.
Me segurei no porta-giz e tentei disfarçar pra ninguém notar (parece até música de Roberto Carlos). Mas que nada! Senti que estava perdendo os sentidos e, quando dei por mim, estava sentada com uma porção de rostinhos me olhando.
Aí, pensei: - Estou bem assistida, pois não tenho como passar para outro plano por falta de atendimento médico.
Os alunos então me bombardearam com perguntas mil: - Você já sentiu isso antes? Há quanto tempo? Já foi no médico? Estás tomando algum medicamento?
Quanto tempo faz que você não vai ao médico? Blá, blá, blá...
Respondi que não era a primeira vez, que não era nada e logo passava, que provavelmente era efeito VARIG ou Vasp, e que pobre tem mais que andar de pé dois ou de lotação.
Me levantei numa boa e voltei para o quadro, como se não tivesse acontecido absolutamente nada.
Queriam que queriam que eu parasse a aula. É ruim, heim!
Eu, Maria Cristina, parar? Nem pensar!
Dar aulas para mim era o meu melhor remédio (tenho muitas saudades e estou sofrendo muito por não poder exercer minhas atividades).
Mas não consegui convencê-los. No dia seguinte recebi telefonemas mil e um dos alunos avisou que minha consulta estava marcada, para aquele mesmo dia, na melhor Clínica e com o melhor dos médicos. Eles estavam suspeitando de labirintite (Gente! Eu nem sabia o que era isso!).
Nesse momento lembrei de uma vizinha minha, Dona Mabilde, que vivia caindo pela casa, na rua, e parecia ter essal tal labirintite.
Aí falei comigo mesma: - Porra, esses médicos estão viajando; acho que estou precisando mesmo é de uma amarelinha bem geladinha.
Realmente, eu não tinha o costume de andar com remédios e também, desde minhas últimas cirurgias (o que não foi nada fácil) tinha tirado férias dos doutores e de quaisquer medicamentos e exames.

Paradinha: Em janeiro de 1987 fiz uma cirurgia para amputar o cólon do útero, retirar as trompas, cistos em um dos ovários e também o perínio.
Tive muitas hemorragias durante um ano e meio.
Foi quando passei pela segunda cirurgia, em julho de 1988, para retirar o útero (essa é uma das histórias hilárias e preconceituosas de meu livro Meus Casos).

A consulta era na parte da tarde e esperei bastante tempo para ser atendida e, acima de tudo, estava preocupada se ia ou não dar tempo de chegar no horário para a aula.
Enquando esperava, li tantas revistas e falei com tanta gente, que fiquei extremamente esgotada e afônica.
O médico que me atendeu era muito atencioso e, sabendo que eu era de Santos/Estado de São Paulo, fez todo o possível para descobrir a tal enfermidade que me deixou fora do ar.
Expliquei para ele, tentando ser objetiva (o que pra mim é totalmente impossível), que toda vez que viajava de avião (tipo quatro vezes ao mês), eu ficava surda, sem voz, e que precisava sempre de algumas horas em repouso para voltar ao meu normal.
Perguntou sobre o meu dia a dia e ficou impressionado com o volume de tarefas que eu realizava diariamente. Não conseguiu deixar de dizer que minha vida era por demais anormal.
Durante o exame físico verificou que minha tireóide estava aumentada e perguntou se alguma vez eu tinha feito exame T1, T2, T3, etc. (me pareceu mais com um teorema).
Respondi então que meu pai tinha quase morrido por causa dessa tireóide, numa cirurgia.
Em seguida, me colocaram numa cadeira, giraram, giraram, giraram e, quando a cadeira parou me senti uma mulher bala disparada por um canhão, totalmente perdida o tempo e espaço.
Após isso, entrei em uma cabine para fazer o exame de audição (alguma coisa parecida).
Quando retornei à sala do doutor, ele já tinha alguma coisa a me dizer.
Constatou que os meus sintomas pareciam indicar mesmo a tal labirintite, que minha audição tinha sido alterada num dos ouvidos (falo muito alto) e que, para fechar o diagnóstico, eu precisaria fazer vários exames.
Mesmo sem os resultados dos exames, ele adiantou que eu teria que diminuir minhas atividades (Gente! Achei melhor nem responder!).
Naquela época fiz todos os exames em Santos e enviei os resultados por sedex, conforme tínhamos combinado.
Depois de alguns dias recebi uma carta e também um telefonema do médico.
DIAGNÓSTICO: exames todos normais, sintomas de labirintite PROVOCADOS POR ESTRESSE.
Me passou um tratamento e uma série de medicamentos necessários para mais ou menos 50 (cinquenta) dias, sendo que era imprescindível que eu diminuísse minhas atividades.
Foi a primeira vez que ouvi realmente a palavra ESTRESSE.
Pensava que era doença de madame e achei até "chique no úrtimo".
Agora imaginem a Maria Cristina diminuindo as atividades. Nem em sonho!!!
Tomei os remédios direitinho e continuei minha vida sem me preocupar com o tal estresse.
Depois disso, tive várias ausências, principalmente quando viajava de avião.
Uma das vezes, desmaiei no ônibus que leva os passageiros do avião para o desembarque do aeroporto. Foi cômico demais!
Trazia comigo uma bolsinha onde continha novelos de lã do tipo azul bebê, e também uma mantinha de tricô inacabada, que rolou pelo chão, espalhando tudo. Pra quê!
Quando voltei ao normal, todos em volta tiraram a conclusão de que eu estava grávida e aí, fui tratada como tal.
Fiquei assustada, é claro. E muito mais quando os funcionários do aeroporto me tiraram do ônibus e me colocaram numa cadeira de rodas.
Não deixaram nem que eu pegasse minha bagagem e, quando dei por mim, estava sendo atendida por um médico.
Isso é pra quem pode. Não é brinquedo não!!!
Bem diferente das filas do SUS. Achei o máximo.
Foi aí então que enchi meus pulmões e expliquei toda pomposa: - Sabe, doutor, eu tenho estresse e labirintite.
Depois me levaram para uma sala VIP, onde me colocaram num belo e confortável sofá (isso não nos pertence mais!), tiraram minhas botas, me deram um suco e pediram que eu repousasse antes de pegar o ônibus para Santos.
Oh, meu Pai! Foi irado! Fui gestante por algumas horas, não precisei carregar peso (ainda bem, pois sou daquelas pessoas que quando viajam levam o guarda-roupas inteiro, fitas, CDs, livros, etc., etc., etc.) e fui tratada como uma estrela da TV. Foi bárbaro.
Eu só não sabia do perigo pelo qual estava passando (bola fora).
Hoje, se eu tivesse oportunidade, gritaria ao mundo pedindo que "PARASSEM" e que pensassem sobre o perigo de uma vida anormal, do trabalho excessivo, das consequências cruéis.

Posso falar sobre isso com autoridade, pois sou sócia de carteirinha e tudo do tal ESTRESSE


Paradinha: Estou lembrando agora que, quem me fez a primeira cirurgia foi um médico que ajudou muito meus avós maternos, quando não tínhamos, muitas vezes, nem dinheiro para a condução - Dra. João Batista.
Ele pediu a meu marido Walter que cuidasse de mim com extremo cuidado e carinho, pois eu já tinha sofrido muito quando menina e adolescente, e que eu estava muito sensível e cansada. Eu mesma percebia a preocupação dele, mas lógico que pensei em algo bem mais sério: Será que estou
com "aquela doença"?


PARTE II: Continuei trabalhando no mesmo ritmo. Após o tratamento da labirintite, não quis saber de mais nenhum comprimido e bola pra frente.

Depois daquele ano (1991), minha casa entrou em reforma.Foi assim uma LOUCURA!.

Administrar a casa, com todos aqueles pedreiros, caminhões chegando para descarregar areia, cimento, ladrilhos, etc., barulho infernal de picareta quebrando tudo, o barulho e pó daquela máquina de cortar os ladrilhos e mármore, dia após dia, durante um longo tempo, ufa! Não foi nada fácil.

Continuei ministrando aulas fora e também aulas particulares, com todo aquele barulho e movimento.

Teve uma época em que a sala, a cozinha e o escritório ficaram funcionando juntos na casa dos fundos.

O movimento era geral, pois além de nós, que já éramos nove, ainda tinha meus agregados e meus alunos particulares, que entravam e saíam de hora em hora.

Na copa do mundo, em 1994, o quintal estava todo quebrado, em reforma.

Mas, mesmo assim, os churrasquinhos no domingo eram sagrados.

Foi por demais complicado também cuidar de meus velhinhos, pois eles tinham problemas para se locomover. Tio Leopoldo usava cadeira de rodas e Tia Irene tinha mal de parkinson.

O trabalho com eles e as crianças dobrou principalmente na hora do banho, das refeições, movimentar a cadeira de rodas, fazer os curativos e dar aulas com toda a família ao lado.

Lembro também que no final de 1994, por não ter mais horários disponíveis, dava aulas de Matemática e Estatística para pequenos grupos (3) de alunos.

E as minhas aulas de piano, então! Era um dos meus sonhos que foi realizado, pois esperei por ele mais de 32 (trinta e dois) anos. Walter me deu esse presentão lindo!

Consegui fazer 3 (três) anos em um e, em janeiro de 1995 ganhei um piano usado, mas lindo, lindo, lindo! (presente de Waltão).

A minha vida continuou sendo agitadíssima, compromissos mil, sem horários definidos para trabalhar, descansar, comer, dormir, me divertir, etc., e sem "férias" ou "feriados".

Eu era a SUPER MULHER, A MULHER MARAVILHA, que não podia parar!

"NÃO, NÃO POSSO PARAR! SE EU PARO, PENSO, E SE EU PENSO, CHORO".


PARTE III: Em 1995 assumi mais aulas, mas em Cubatão/SP, todas as quintas feiras à noite (tinha que sair de casa às 17:00 horas) e aos sábados, o dia todo.

Para conseguir essas aulas, passei por uma entrevista com a Diretora, Supervisora, alguns mestres e outros.

Quando entrei na sala para ser entrevistada, fui colocada em evidência bem no centro, com todos me bombardeando de perguntas sobre didática, matemática financeira, estatística. Pensei que ia ficar nervosa mas, como era meu assunto preferido, adorei: dei uma "Super Aula", foi muito bom.

Fui escolhida no mesmo dia entre todos os outros candidatos e fiquei super feliz de trabalhar em um Curso Técnico - Escola Técnica Federal - Unidade em Cubatão/SP.

Adorei a escola e os alunos, mas ficou muito cansativo e sacrificado para mim.

Também fui convidada para dar aulas no Cursinho Anglo para Vestibulares.

Nesse mesmo ano Tio Leopoldo quase morreu e tive que ficar internado.

Lembro que durante alguns dias, além de todas as atividades, ainda dormia com eu vellhinho no hospital.

Quando ele teve alta, tive o maior trabalho para consertar os estragos consequentes dessa internação: as feridas da perna, intestino, enfim, ele piorou em tudo.

A partir desta internação, ele não ficava mais em pé. Gente! O caldo engrossou de vez!

Era cadeira de banho, de rodas, sacos e sacos de curativos, uripen, comida na boca, lavagem intestinal com flat enema, meu Pai, foi um pré-suicídio.

Sempre pude contar com minha mãe Naná e com minha secretária e amiga Irene, mas mesmo assim era uma super carga.

Aconteceu então o INEVITÁVEL: Levei um tombo e tanto. Caí sem pára-quedas.

Posso dizer que me dói muito falar sobre isso.

É lógico que muitos dos problemas pelo qual eu estava passando não tinham saída, mas tenho que admitir que passei dos limites totalmente: abusei e desrespeitei totalmente o meu corpo, me cobrei demais.

Em agosto/1995, num dia de sábado, estava dando aulas em Cubatão, dia em que passava o dia todo na escola.

Tinha a hora do almoço e uma "janela" (horário sem aula) que somava duas horas de repouso, antes das aulas da tarde.

Naquele dia eu estava extremamente estafada e muito triste, com o humor bem pra baixo.

Como a falta de humor não era uma característica minha, senti que algo de estranho estava acontecendo.

Me recordo que, na minha hora de descanço, não tomei meu chimarrão, não comi, a cabeça doía e sentí uma necessidade enorme de ficar sozinha (outra característica que não tem nada a ver comigo).

Saí da sala dos professores, fugi dos alunos e fui andar por perto da escola, num desânimo e tristeza sem igual! As dores de cabeça aumentaram junto com náuseas, me senti totalmente fora do ar (escrever sobre isso está me doendo muito; é como se estivessem me atingindo com um punhal no coração).

Voltei para a escola depois de andar e fumar demais, mas eu não sabia nem o que queria, o que fazer, em que pensar, me senti num labirinto sem luz e sem saída.

Ainda tinha que dar mais 4 (quatro) horas/aula e minha carona para voltar para Santos estava garantida.

Peguei o meu material e entrei na sala de aula, sabendo que estava acontecendo algo estranho.

Quando comecei a dar a aula, a sala começou a girar, vontade de vomitar, fraqueza e sensação de desmaio. Ficou tudo escuro. Os alunos perceberam e me ampararam rapidamente.

Quando dei por mim, estava com a médica da escola que, graças a Deus, estava presente naquele dia.

Tirou minha pressão, a qual estava normal. Mas, ao verificar os batimentos cardíacos constatou que algo estava errado. Me proibiu de continuar as aulas naquele dia e pediu que eu fosse a um Cardiologista com urgência. Gente! Confesso que SURTEI!

Queria esconder da família, mas era totalmente impossível, pois os sintomas se agravaram.

Walter ficou assustado e atordoado. Acabou espalhando para tudo quanto era aluno, colegas de trabalho e família que eu estava com problemas cardíacos.

Oh, meu Pai! Me levou urgente no Dr. Villarinho, um cardiologista muito amigo nosso e bem conceituado na região.

Na consulta, foi confirmado: estava com arritmia, ou seja, com as batidas do coração totalmente fora do rítmo. Tive que parar de fumar abruptamente. Mas o pior estava por vir.

Meu corpo não respondia aos comandos de meu cérebro.

Tinha que correr a toda hora, para sentar ou me deitar, não conseguia ficar de pé, tudo girava a minha volta.

RESULTADO: caí na cama com tudo, apavorada, preocupada com as minhas atividades mil, com os velhinhos, meus filhos, marido, agregados, bichos, teretetê, teretetê, teretetê...

Lembro que quando dei por mim, estava com um DR. ENORME de frente para mim, o qual tinha adentrado meu quarto.

Quando ele disse que era um PSIQUIATRA, o medo, a ira, o PRECONCEITO, tudo veio ao mesmo tempo.

Era o Dr. Fábio Oliviere! Perguntou o que eu estava sentindo.

É claro e evidente que contei sobre os meus sintomas mas, de maneira alguma, admiti que estava doente. Não! Para mim era só um mal estar.

O que aquele cara estava fazendo no meu quarto? Eu não estou louca!!!

Fiquei magoada e contrariada em último grau.

De repente ele começou a me explicar, com todo o carinho e paciência, que eu estava com estresse e que, aquela impotência para realizar as tarefas tinha provocado a depressão.

Fala sério! Aquela cara é que estava doido, gente! Jamais a Maria Cristina teria depressão. Como o Faustão diz, porra meu! Ô LOUCOOOOO! Isso é coida de madame!!!

Me receitou uma porrada de remédios faixa preta com frontal, tripytanol, dormonid, oucadil, estrestabs, carbolítio e outros, mais o "Atlancil" para o coração, medicamento este receitado pelo Dr. Villarinho (cardiologista).

Naquela mesma noite, depois do médico, adentrou o meu quarto o nosso amigo Psicólogo Dr. Arlindo Salgueiro.

Ficou explicando a situação toda e minha cabeça parecia que ia estourar.

Quando tomei os primeiros comprimidos, foi como uma DINAMITE no corpo: ME APAGOU...

É RUIM, HEIM! QUEM DIRIA...

NÃO CONSEGUIA, DE MANEIRA ALGUMA, ACEITAR TODA AQUELA SITUAÇÃO!

POSSO DIZER QUE ME PEGOU DE SURPRESA E QUE ME ABALOU POR DEMAIS, DEMAIS!!!


Capítulo V de meu livro, escrito em: 24/08/2002 às 8:45hs, 10/09/2002 às 10:20hs, 11/09/2002 às 10:30hs, 15/09/2002 às 15:10hs, 17/09/2002 às 15:00hs, 18/09/2002 às 10:40hs, 08/02/2003 às 2:40hs, e HOJE, DIA 27/07/2007 , terminando às 18:29hs.

Um comentário:

Cristian Willians disse...

História incrível amiga, cada parte que leio fico mais interessado para saber o que acontecerá na próxima blogagem e olha que estou lendo tudo em um dia...