fevereiro 10, 2007

Abraço Energético

Gostaria de relatar algo que aconteceu comigo no início da depressão, quando eu nem entendia nada sobre essa enfermidade. Hoje tenho certeza de que os problemas emocionais aumentam a dor e a depressão de uma forma matemática, ou seja, o aumento dos problemas emocionais estão diretamente proporcionais ao aumento da dor e da depressão.
Hoje encontrei algo que escrevi em abril de l997, mais ou menos, e que tem tudo a ver com o que ainda passo nos dias de hoje. Um dos capítulos de outro livro, também esperando publicação, Meus Casos.
Naquele dia eu não estava com muita energia para gastar, mas precisava queimar um pouco das minhas gordurinhas e também precisava estar só comigo mesma.
Sendo assim, me arrumei com bastante cuidado, saí bem perfumada e com uma leve maquiagem, só para dar um pouco de brilho ao exterior (a bendita da vaidade que não leva a nada).
Coloquei a fita do baiano Netinho no meu walkman,engatei a primeira, depois de alguns minutos, consegui engatar a segunda... e daí para diante nada mais me segurou.
Chegando ao coração do Gonzaga(bairro de Santos/SP), entrei no Shoping, comprei alguns libros espíritas (tenho compulsão por livros e isso é terrível) e comecei a andar bem devagar, apreciando o movimento e as vitrines.
Mas à medida que eu apreciava as vitrines, eu também ia vendo a minha imagem refletida nelas e comecei a entrar em depressão.
Gente! Engordei mais de 20 quilos e isso é grave para uma mulher quatro ponto zero.
A minha imagem era semelhante a daquelas portuguesas robustas (ou daquelas baianas de saias rodadas com o tabuleiro de acarajé na cabeça) que quando andam, o bumbum e os seios acompanham o rítimo com um sobe e dece que acaba com qualquer vaidade feminina.
Além de me sentir horrível eu também me senti vários anos mais velha e totalmente fora de moda.
É aí que o exterior te leva lá pra baixo! O estresse atacou travando as pernas, fazendo meu corpo pesar mais, enfim, como diz um amigo: - "Cris, o seu problema é de junta! (junta tudo e joga fora).
Saí do Shoping, atravessei a rua e entrei em um outro shoping pequenino, que dá acesso à avenida principal (Ana Costa).
Comecei a ficar na dúvida, em como deveria voltar para cara: Pego um táxi? Será que dá pra ir andando? Será que consigo subir no ônibus? (síndrome do pânico - última moda).
Naquele momento eu estava realmente com o astral uns dez graus abaixo de zero.
De repente, passando por uma perfumaria, havia uma moça fazendo a propaganda de uma nova fragância e então, quando passei por ela, estendi o braço mecanicamente para receber um pouco do perfume.
Nesse exato momento, quando me voltei para frente, um rapaz de mais ou menos um metro e oitenta e quatro, aparentando uns quarenta e poucos anos, olhou para mim, de braços abertos e falou (praticamente li os lábios dele, pois o som em meus ouvidos estava nas alturas): - Não acredito!!! É você!!! Gente, é demais!
Abriu os braços, veio ao meu encontro e me abraçou com tanta força, que não tive tempo nem de raciocinar.
Fiquei presa no abraço sem poder me movimentar. Em resumo, me sentí uma estátua mumificada.
Quando ele me soltou, desliguei o som e perguntei, com aquela casa de paisagem: - Gente! Mas quem é você???
Bom, isso acabou com ele, mas não o suficiente para que ele perdesse o rebolado.
Comentou que me reconheceu, mesmo tendo percebido que eu estava um pouco mais forte (realmente, isso acabou comigo, pois de moça, quando casei, tinha 1,74m de altura e 46kg e naquele momento estava com 1,74m e 91kg... gente, é difícil de engolir).
Mas, logo em seguida, ele disse: - Cris, su eu, o Luiz Sérgio (ou Sérgio Luiz?). Não entendi bem.
- Você não morava em lugar tal? Seu irmão não é o Jacyr? Lembra da sua amiga Jocelí? Pois então. Eu morava no prédio dela e era apaixonado por você! (naquele momento, sinceramente, comecei a achar que estava participando da pegadinha do Faustão).
Em seguida, me abraçou de novo, felicíssimo e começou a dizer para as moças da perfumaria que eu continuava linda, que tinha sido apaixonado por mim, mas que naquela época de adolecência eu não dava bola para ele.
Me abraçou mais uma vez e eu fiquei totalmente sem ação, chateada por não ter me lembrado dele. Deixou o telefone, me deu mais um abraço e partiu.
Depois de todos aqueles elogios e abraços afetuosos, me senti a mulher mais linda do Gonzaga: a dor nas pernas desapareceu, o meu peso diminuiu, os meus pés pararam de arder.
Em resumo, me senti maravilhosa, como se fosse uma personalidade ímpar e impotantíssima.
Decidi tomar o ônibus para voltar para casa e isso, apesar de ser algo simples, a muito tempo eu não conseguia andar de ônibus por causa da insegurança causada pelo estresse. Gente!
Voltei para casa com disposição total e logo que cheguei comecei a contar o que tinha acontecido a meus filhos. Com isso, tive acessos de riso com eles, lembrando do meu comportamento de efeito retardado.
Mas, não importa se era Luiz Sérgio, Sérgio Luiz ou qualquer outro nome e pessoa.
O que posso dizer desse fato é que aqueles abraços foram pílulas de energia de vital importância para mim: aumentou minha autoestima, me senti querida, amada e percebi que meus vinte quilos a mais não atrapalharam essa transmissão de amor e energia de que tanto eu estava precisando. Me deu muita força e me deixou muito feliz.
A você, amigo, lhe agradeço de todo o coração.
Não importa que eu me lembre de voçê, o que importa é que você me fez muito bem.
Acredito que em algum dia nos veremos novamente e muito obrigada