novembro 01, 2007

"MEUS QUINZE METROS QUADRADOS"


Nunca passou pela minha cabeça que ficaria tanto tempo dentro de meu quarto.


Já passei por outros problemas de saúde sérios, que me deixaram por um determinado tempo, não superior a seis meses, acamada e com dores, em convalescença, mas naquela época eu sentia que aquilo tudo ia passar e assim aconteceu.


O meu quarto só era usado para dormir e jamais usado para outros fins.


Salvo nos finais de semana e feriados, onde eu, quando podia, dormia até um pouco mais tarde (não esquecendo "daquelas matinês").


Minha vida era por demais agitada, com o tempo totalmente preenchido. Posso até contar nos dedos das mãos o número de vezes que me sentei na poltrona da sala para descansar ou assistir a televisão.


Não me lembro também de ter assistido à televisão de mãos paradas, pois sempre tinha um trabalho manual como crochê, tricô, bordado ou costura.


Na realidade eu não assistia à TV, eu escutava!


Olhava apenas para as coisas que, de repente, me chamavam a atenção.


Esse costume eu tenho desde muito menina, podendo dizer que sou do tipo "mulher prendada" (ou rendeira?).


De 1995 até 1999, tive que repousar e ficar de cama por várias vezes, mas não ininterruptamente.


Quando passava mal, ficava sem forças, sem energia devido ao estresse, eu não tinha outra alternativa.


Porém, da mesma forma que caía de cama, eu me levantava, sacudia a poeira e bola pra frente!


REPENTINAMENTE CAÍ NA CAMA E NÃO CONSEGUI FICAR, ATÉ AGORA, FORA DELA!


Estou enferma há mais de sete anos, ficando cada vez mais limitada e hoje me encontro dia após dia, noite após noite, dentro de quatro paredes.


No ano de 2000, a minha saúde piorou de vez e, mesmo brigando com a doença, fui NOCAUTEADA por ela.


Meu corpo pediu descanso e ainda pede (ou melhor, exige).


Briguei, guerrilhei, teimei com ele, mas de nada adiantou!


Percebi que não tinha pra onde fugir e, que desta vez, eu tinha que abaixar minha cabecinha e aceitar o inevitável.


Se eu fosse uma pessoa mais calma, ponderada, talvez não sentisse tanto (ou nem ficasse doente). Mas não é o caso.


Fiquei naquela situação tipo "se eu correr, o bicho pega e se eu ficar o bicho come".


Meu Deus! Tive que fazer "de um tudo" para não enlouquecer, não ficar revoltada. Não sei como aguentei e nem como estou aguentando.


É justamente nessas horas que sentimos a presença de algo superior, da presença de um Deus generoso, amigo e que, literalmente, nos carrega em seu colo e nos ampara.


Caso contrário, eu acho que teria ficado super irada, de mal com a vida, acabando com a família e o pior: não aprendendo absolutamente nada.


Como as dores o meu estado geral piorou demais, tive que dançar conforme a música.


O meu quarto foi se transformando a cada dia que passava: era minha sala, meu escritório, minha cozinha, meu quintal, meu confessionário, meu consultório, minha discoteca, minha biblioteca, etc., um tudo!


O número de objetos no quarto aumentava proporcionalmente com o avanço da doença.


Ah! Se as paredes falassem...


Sabia que era imprescindível manter minha mente e meus pensamentos ocupados.


Caso contrário, ao invés de evoluir, eu ia acabar de vez com a Maria Cristina.


Como meu quarto se transformou em tudo que vocês possam imaginar, passei a chamá-lo de "meus quinze metros quadrados".


Quinze metros quadrados de quê?


De resignação, paciência, fé, perseverança, humildade e esperança para conseguir conviver com:


01. Ansiedade;


02. Dores no corpo todo;


03. Tristeza;


04. Impotência;


05. Dificuldades para me locomover, falar, chorar, rir, dançar, etc.;


06. Cansaço, Fadiga;


07. Distúrbio do Sono;


08. Ânsia de vômitos, Asia;


09. Cólicas intestinais e diarréia;


10. Contrações (dores de parto?);


11. Taquicardia;


12. Perfeccionismo;


13. Mudanças de Humor;


14. Sem vida social e profissional;


15. Dependência.


Gente! Como guerrilhar e conviver com tudo isso? É ruim, heim?


Não tenho como dizer o quando está sofrido e difícil aceitar e conseguir conviver com toda essa impotência, dependência e dor.


Mas tentei e ainda estou tentando, é claro.


Por favor, não me usem como exemplo, pois nesses últimos anos passei por tantas transformações que acaba ficando perigoso, ou seja, tenho consciência que fiz e que ainda faço muitas coisas que não são tão aconselháveis.

Quando coloquei no papel todas as minhas queixas, acabei encontrando 52 (cinquenta e duas), as quais eu chamo de sintomas e que são tratadas, num outro capítulo, usando métodos científicos e estatísticos.

Mas, para vocês tomarem conhecimento de algumas das coisas que rolam nos meus quinze metros quadrados, resumi minhas queixas em 15 sintomas, que acabaram e ainda estão acabando comigo.

Querido leitor!

Deixo aqui mais uma tarefa árdua para você. Que tal analisar comigo o que é que eu fiz e ainda faço de bom e de ruim?

01.ANSIEDADE

. tinha parado de fumar por dois anos e sete meses, mas voltei a fumar e uso o cigarro como muleta (sem comentários).

Tentei parar? Sim, várias vezes...Acho que faltou força de vontade...

Como diz o Dr. Dráuzio Varella, pelo menos tentei e estou tentando.

Usei tudo quando é tipo de filtro, o medicamento Zyban para dependentes da nicotina, a água, orações, simpatias, mas que nada...

. ao meu lado, na cama, começou a juntar novelos de linha, lã, panos de prato, agulhas, tesouras, centímetro, retalhos de pano, lantejoulas, vidros vazios de maionese, miçangas, botõezinhos, fitinhas coloridas, elásticos, etc.,

Tenho sempre vários trabalhos iniciados, pois quando me canso de fazer o mesmo trabalho, mudo para outro, mas sempre conseguindo terminar alguns, é claro.

A minha ansiedade para produzir e terminar qualquer um deles é ENORME.

Graças a Deus, consigo terminar a maioria deles. Perdi a conta de quantas mantas, casaquinhos e sapatinhos de bebê eu já fiz, dos metros e metros de crochê.

Daqui a pouco meus filhos e meu marido estarão usando "CUECAS DE CROCHÊ"! É ruim, heim?

. Não tenho mais unhas para roer;

. Não consigo ficar com as mãos paradas, minha ansiedade vai a mil, e fiquei quase louca quando não conseguia segurar nem a xícara do café!

Gente! Foi um castigo terrível, irado!

. Quando acordo, meus neurônios brigam, meu cérebro dá milhões de comandos e meu corpo não obedece. Nessas horas eu não tenho vontade de fumar: eu tenho vontade é de comer o cigarro, mastigar mesmo!

. Ansiosa ao dormir, imaginando se no dia seguinte vou estar melhor. É dose! Já estou virando para o oitavo ano de sofrimentos e lutas mil.

02. DORES NO CORPO TODO

. As piores são as dores de cabeça e da arcada dentária (todos os dentes).

Fazer meditação ou aplicar Reiki (energia imposta através das mãos) nessas horas não dá certo.

. Quando ainda conseguia descer as escadas, tocava piano para distrair as dores de cabeça. Ela não passava e eu tocava e tocava mais e mais. Amarrava um pano embebido de álcool na cabeça, depois de ter espalhado vick vaporub pela testa toda e no nariz, punha um chumaço de algodão entre o aro do óculos e o meu nariz, para não doer mais.

Fiquei e fico várias vezes embaixo do chuveiro, deixando a água bater em minha cabeça, mas "a dor não sai pelo ralo". De vez em quando passo o dia com óculos escuros, tipo Raul Seixas e faço uso de medicamentos tipo naprozyn, dorflex, tylenol, cafalim, tegretol, neusaldina, chá, café, simpatias, algodão com água quente nos olhos, ficando parada igual a uma estátua, sem mover um nervo sequer.

As dores só param quando bem entendem.

O incrível é que nunca pedi à família que fizessem silêncio, nunca me tranquei no quarto.

A única coisa que peço nessas horas, é para deixar a cortina fechada, pois como minha cama fica em frente para a janela, a claridade é um tormento para a vista e para as dores de cabeça (virei coruja, vampiro ou morcego?).

. Dói o corpo todo, em todas as juntas, os nervos repuxam e, para mudar de posição, mesmo deitada, é um sufoco. Parece que levei uma surra. Acabo ficando incapacitada para me mover, para não provocar mais dores.

Quando apalpo meu corpo, encontro inúmeros pontos dolorosos como se em cada ponto desse tivesse sido enfiado uma agulha.

Quando fico em pé, parece que estou pisando em cacos de vidro.

03. TRISTEZA

. A Tristeza é bem diferente da depressão, pois quando fico triste, sei o motivo que originou esse sentimento; tenho como dizer o porquê da tristeza.

Esse sentimento é inevitável, pois só o fato de eu me tornar limitada e de ficar incapacitada, já acaba comigo.

Tenho consciência da vida fora de meu quarto e percebo quantas coisas eu gostaria de estar fazendo.

A luta contra a tristeza é pesada e o pânico de ter dores e depressão aumenta a cada dia.

Não é possível, para mim, medir essa tristeza.

Sei que esse sentimento aumenta mais ainda o estresse emocional, piorando todo o quadro clínico.

Muitas vezes tento esconder esse sentimento da família.

Uma vez, o Henrique e a Evelyn me trouxeram um spray, uma latinha de espuma de carnaval. Pra quê! Não prestou...

Deixo sempre uma latinha de espuma ao meu lado e, cada um que entra no meu quarto para me ver, dependendo de quem é, acaba levando um banho de espuma, sem contar com o confete e a serpentina (fazendo da tragédia uma comédia?).

A Evelyn nunca deixa meu quarto sem bolas de gás coloridas, penduradas na janela, nas paredes e nos guarda-roupas.

Tenho a impressão que o cômodo da casa mais difícil de se ficar triste, é o meu quarto.

Tenho também uma super discoteca, mais de 150 (cento e cinquenta) discos de vinil, com todos os tipos de música que vocês possam imaginar, fora o grande número de CD's.

Henrique trouxe para o meu quarto uma caixa de som grande, amplificador e um toca-discos. Está cada vez mais difícil transitar em meu quarto.

Adoro cálculo, matemática, e um dos meus hobbys é estudar e fazer uma série de exercícios de cálculo para concursos, universitários e vestibular, mesmo quando estou deitada (na horizontal).

Se quando eu terminar esse livro ainda estiver incapacitada, vou escrever um livro dedicado às pessoas que têm um grande trauma com a disciplina em questão.

Uma das minhas lutas diárias é ocupar o meu tempo de maneira tal que a tristeza perca o seu espaço (Bey, Bey, Tristeza, não precisa voltar!!!).

04. IMPOTÊNCIA

É algo terrível de suportar, me incomoda por demais.

Quando você está, por exemplo em depressão, você acaba não se preocupando com ela, pois você fica fotalmente alienado a tudo.

Mas é totalmente diferente quando você sente vontade de realizar uma porção de coisas e fica impotente para tudo.

Gente! Não dá para aguentar, é sofrido por demais, demais.

Sei que, nesse grau da doença em que me encontro, será fatal se eu me arrastar para conseguir fazer as coisas.

Há anos agi dessa maneira e acabei nesse estado.

Não deu certo mesmo! Nem me atrevo a não respeitar minha condição atual.

Procuro fazer o que posso e o que quero, e não o que as pessoas acham que eu devo fazer.

Esse "achismo" me levou para o fundo do buraco. Eu, heim!

05. DIFICULDADE PARA ME LOCOMOVER, FALAR, RIR, CHORAR, DANÇAR

ME LOCOMOVER - no momento faço uso do andador e da cadeira de rodas (minha aranha e minha mitsubishi).

Cansei de ser carregada, ficando mais dolorida ainda; cansei de desmaiar em tudo quanto é lugar por insistir em me manter de pé; ficar dependente para andar de meu quarto até o banheiro, ficou dose!

Tive que derrubar todo e qualquer preconceito que tinha dentro de mim e também de conscientizar toda a família.

FALAR, CHORAR - Adoro falar muito e alto demais, tipo italiana e, para complicar, quando falo um pouco fico na maior fadiga, dor de cabeça, face ardendo, trêmula.

Dizem que chorar faz bem, mas no meu caso aumentam as dores com tudo, interferindo em cada ponto doloroso de meu corpo.

RIR, DANÇAR - Rir e dar gargalhadas é muito bom, irado!

Mas toda vez que estou rindo, acabo urinando sem sentir, ficando com dores no abdómen, cólicas na região pélvica, dores na face e na cabeça.

Vocês acreditam? Nem eu!

Gente! E dançar? É bom demais. Só que no último baile que meu filho me levou, fiquei tão daw, tão sem forças, que acabei colocando fogo em mim mesma (uma brazinha do cigarro) e saí carregada (é lógico que fomos os últimos a sair).

Só pude dançar um pouquinho e depois tive que tomar chá de cadeira.

Saímos por último porque, mesmo com dores terríveis e sem enxergar mais nada, jamais iria interferir na diversão do grupo, jamais acabaria com a alegria deles.

Saí carregada do baile e acho que as pessoas devem ter pensado: - Uauh! Essa aí é que é uma alcóolatra em potencial!

Foi divertido demais, apesar de tudo!

Em uma certa noite, depois de assistir a um capítulo da novela "O Clone", coloquei um CD de músicas árabes, me levantei, ficando descalça, peguei um de meus lenços e tentei dançar devagarinho, assim como uma odalisca no final de carreira. Foi estranho demais!

Eu fiz alguns movimentos leves com o lenço, me sentindo pesada por demais (parecia mais com a baleia Willy).

O meu carrocho Mickinho olhava para mim, balançando as orelhas, sem entender nadica de nada, ficou mudo e paralisado.

E minha gata Gardênia, então! Ficou também sem saber se podia ou não pular para cima do lenço; ficou olhando os movimentos circulares do lenço, quase caindo da murada da escada.

Nem preciso dizer que essa loucura não deu em nada, pois em menos de três minutos, caí na cama, gelada que nem defunto, quase desmaiando, não enxergando mais nada. Mas, tudo bem, valeu!!!

Sempre adorei dançar, cantar, rir!

Outra vez peguei o violão, sentada na cama, e comecei a tocar e cantar uma de minhas músicas.

Mas o violão ficou pesado a beça, as cordas pareciam me cortar e a voz não saia, como se eu estivesse escutando um disco todo arranhado. Tudo bem! Ningúem pode dizer que não tentei...

Tive que aprender a rir para dentro, pois se liberar, fica tudo dominado (as dores e a fadiga).

06. CANSAÇO, FADIGA

Mesmo quando as dores ficam mais leves, a fadiga não tem me abandonado.

Escovar os dentes, para mim, é como esfregar o chão do quintal, pois é um movimento que provoca muita dor e me cansa demais. Parece brincadeira, não!

Se alguém me contasse, acho que não acreditaria, principalmente partindo de uma pessoa super ativa e cheia de vida como a Maria Cristina!!!

O movimento do garfo de vai e vem me deixa também estafada. Muitas vezes tiveram que me dar comida na boca.

A fadiga me impede de fazer qualquer coisa. Só consigo andar, com o andador, mais ou menos quinze metros, e depois desse exercício não sirvo para mais nada. Estou super cansada e com as dores a mil.

A mesma fadiga também me impede de conversar, falar, rir, chorar, me aborrecer e também de ficar feliz ou eufória.

07. DISTÚRBIO DO SONO:

Sempre gostei de trabalhar de madrugada, pois para mim era o melhor horário para raciocinar.

Mas antes, eu conseguia reparar esse sono, dormindo mais nos fins de semana.

Em resumo: gostava de produzir de madrugada, mas conseguia dormir.

Desde 1995, o sono nunca mais foi o mesmo.

Cuidei de vários velhinhos doentes, ficando em claro noites e noites de minha vida.

Existem vários fatores que afetam a qualidade do sono, e no meu caso, posso citar alguns: ansiedade noturna, dores infernais, medo dos engasgos, efeito dos medicamentos provocando náuseas terríveis, preocupação com os meninos, insônia pura.

08. ÂNSIA DE VOMITOS E NÁUSEAS:

Há muito tempo que arroto remédios. Fiquei muito tempo tendo que ficar totalmente na horizontal para não vomitar. Nessa época, comia, bebia e fazia algumas atividades totalmente na horizontal.

Meu estômago não está mais aguentando tanta medicação.

09. COLÍCAS INTESTINAIS E DIARRÉIA:

Fiquei bastante tempo tendo cólicas enormes e precisava de alguém me segurando no vaso sanitário, porque ficava suando gelado, vista turva, dores terríveis, as pernas, pés, braços e mãos formigavam e chegava a ficar horas e horas passando mal no banheiro.

Muitas vezes sentia dores, evacuava antes de conseguir chegar ao banheiro. Era muito constrangedor e inaceitável para mim.

10. CONTRAÇÕES NA REGIÃO PÉLVICA (DORES DE PARTO):

Essas dores me levaram para o hospital várias vezes e nenhum médico conseguia descobrir o porquê, mas não tinham como não acreditar nelas, pois a dor ficava estampada em meu rosto.

Fiz vários exames de sangue, urina, ultra-sonografias mil e até exames com uma proctologista . Havia a desconfiança de um nervo chamado pudedo, o qual poderia ter sido alterado, com os partos muito seguidos (1981, 1982 e 1984) e também por emagrecimento rápido (luto em 1999 - 15 quilos perdidos em um mês).

Tenho sempre essas contrações e costumo brincar dizendo que a hora do neném nascer está chegando. A maioria das mulheres conhecem essa dor, e aqueles que não, posso dizer que ela é parecida com uma cólica renal ou com uma dor de barriga bem grande.

São dores insuportáveis e que não passam nem com Tramal Retard de 100 mg - comprimidos ou com três ampolas, de 2ml cada, injetável.

11. TAQUICARDIA

Geralmente o coração dispara e as vezes bate mais devagar e de forma irregular. Qualquer movimento faz com que altere o batimento cardíaco.

Além do estresse físico, o estresse emocional também provoca taquicardia, não esquecendo que não posso rir, falar, chorar, cantar, tudo altera as batidas do coração.

Tem horas que parece que ele vai sair pela boca e, em outras horas fico totalmente sem forças, a pressão se altera e o meu coração bate fraco e descompassado.

Todos os exames cardiológicos deram negativos. Salvo no início do estresse, em 1995, que o cardiologista Dr. Villarinho, diagnosticou arritmia e passou medicamentos para mim (1cp de Atlancil pela manhã e repouso absoluto, diminuir atividades urgente).

12. PERFECCIONISMO

Esse sintoma é algo em comum entre as pessoas fibromiálgicas.

No meu caso, não admito meus próprios erros, de maneira alguma.

Tudo que faço tem que ficar perfeito. Se eu estiver escrevendo e rasurar, escrevo tudo novamente ao invés de simplesmente apagar o que estava errado.

Se estou fazendo crochê e percebo que pulei um ponto, mesmo que esteja imperceptível, desmancho tudo e faço de novo.

Costumo sempre justificar os erros dos outros, menos os meus (fico me punindo).

Estou sofrendo demais com minha impotênciam, pois antigamente mantinha a casa "nos trinques", com tudo em ordem, e agora é dolorido demais não conseguir nem vestir minha própria roupa.

Antes eu achava qualquer coisa no escuro. Visualizem: - minha casa é um sobrado enorme (com mais ou menos 300 metros quadrados), com um movimento sem igual, mil tarefas para serem realizadas todos os dias, a cozinha sempre na ativa e eu sem conseguir nem sair do meus quinze metros quadrados.

Quando me avisam que acabou ou está acabando alguma coisa, eu me sinto horrível por não estar conseguindo administrar minha própria casa e também por não poder executar nenhum trabalho doméstico.

13. MUDANÇAS DE HUMOR

Estou ciente que o normal, na condição em que estou vivendo, seria estar sempre mudando de humor, mas o incrível é que isso acontece esporadicamente, em pouquíssimas vezes.

Acho que não me permito à isso e o meu estado geral acaba piorando.

A resignação, a paciência e a perseverança são virtudes que Deus me deu, mas, no estado em que me encontro, seria bom se conseguisse ficar brava, reclamar mais, chorar, exigir mais das pessoas, lutar mais pelas coisas que acredito que estão certas.

Gostaria, imensamente, que a mudança de humor fizesse mais parte da minha vida, pois com certeza, muitas das minhas mágoas e tristezas seriam colocadas para fora.

14. SEM VIDA SOCIAL, SEM VIDA PROFISSIONAL

Nem preciso dizer o óbvio: quando adoecemos, percebemos quem realmente são nossos amigos de verdade e, é claro que sobram muitos poucos.

E no profissional, então! Ficamos descartados e a nossa posição no emprego, fica totalmente ameaçada.

Adoro dar aulas, cozinhar, escrever, fazer crochê e tricô, costurar, lavar e passar, fazer arrumações, estudar, fazer projetos, rir, dançar, baladas regadas com cerveja e música, cantar, viver e viver e viver...

Tenho que admitir que sempre fui ilimitada tanto para trabalhar como para me divertir.

Sinto falta demais das festas em casa, dos bailes, das aulas na universidade, nos cursinhos, das crianças do ensino fundamental, do meu piano... Gente! É muita coisa!

15. DEPENDÊNCIA

Oh, meu Pai! Eu nasci para servir, não para ser servida! (era o que eu pensava, êta nóis).

Não é nada fácil essa dependência, principalmente porque ainda sou muito nova (4 ponto 5), estou lúcida, minha memória é fantástica e não existe nenhum medicamento que altere meu raciocício, minha inteligência e minha capacidade de criar.

Estou aprendendo, muito devagar, quase parando, a pedir as coisas que necessito e que não consigo fazer.

A DEPENDÊNCIA, IMPOTÊNCIA, PERFECCIONISMO SÃO GRANDEZAS DIRETAMENTE PROPORCIONAIS AO TRABALHO, PRODUÇÃO E EXECUÇÃO.

Fiz de meu quarto meu mundo. Nele eu produzo o que consigo, escuto músicas, escrevo muito, tendo que interromper o que estou fazendo várias vezes, leio, estudo, faço de um tudo com dores terríveis, com o corpo reclamando, expulsando a tristeza, me policiando o tempo todo.

GENTE! TÁ DIFÍCIL! MAS, FAZ PARTE...


Esse é o IV Capítulo de meu livro "Meus Quinze Metros Quadrados", escrito em

17/10/2002 às 9:40hs.

18/10/2002 às 9:45hs.

19/10/2002 às 10:15hs.

20/10/2002 às 9:00 hs.


e hoje, dia 04/11/2007, terminando às 00:59hs do dia 05/11/2007.


Observações:Escrevi esse capítulo há cinco anos atrás, e percebo agora o que mudou e o que permanece. Nos próprios relatos desse blog, vocês perceberão que vários sintomas continuam graves, como a Síndrome do Intestino Irritável, com crises fortíssimas e sintomas da Ileíte Crônica - Doença de Croh, no mês de setembro desse ano. A insônia grave continua, sendo que das 3hs às 12:00hs, não consigo mover minhas mãos, ir ao banheiro, falar, fazer qualquer tipo de atividade, conseguindo segurar a xícara com café com leite lá pelas 13:00 hs., conseguindo dormir tipo pequenos cochilos pela manhã e também sob efeito do medicamento dormonid, 15mg, que me apaga por 1h e meia, mais ou menos, mas com efeito também de sonambulismo, ficando as vezes com os olhos abertos, mas totalmente fora do ar, não me recordando de coisas que tenham feito ou falado nesse período de pick do medicamento, o que não acontece todas as noites.

As dores de cabeça e da arcada dentária diminuiram bastante, mas tive perda de quinze dentes, portanto, quinze nervos a menos.

Deus me tirou da cadeira de rodas e os medicamentos ajudaram para que eu tivesse condições de digitar, como estou fazendo agora, de andar melhor, com o uso de bengala, tendo que me impor repouso total para não agravar os sintomas e dores.

Continua uma luta árdua pra fazer qualquer tipo de exercício físico, sempre sendo difícil sair da vida sedentária, mediante as dores, que hoje são mais suportáveis, ou porque me acostumei com elas ou porque não exijo mais tanto de mim mesma, ou seja, qualidade de vida melhor "entre aspas".

Ao menos, tenho algumas horas de energia para fazer coisas pequenas e descansar das dores, mas não tenho como negar a permanência e aumento de sintomas.

Os meus filhos cresceram, hoje estão trabalhando, cada qual seguindo sua vida, e acredito que esse fato tenha me aliviado ao menos nas preocupações de mãe coruja, e que coruja, do tipo que ficava agarrada nas grades da janela, esperando que eles chegassem em casa depois da faculdade, das baladas, das saídas normais de adolescentes.

A Maria Cristina mudou aparentemente, acredito eu, mas tenho que admitir que já não me importo de deixar que as pessoas façam as coisas por mim, isso já é muito em relação a tempos passados.

Estou diante da telinha do computador há uns cinco meses, o que me fez muito bem, voltei ao mundo, conheci pessoas diferentes, o que acalma minha tristeza mediante a minha impotência física.

Mas posso garantir a vocês, que mesmo estando nesse pequeno mundo, que é o meu quarto, vivi milhões de quilômetros e quilômetros, tenho consciência de que não estou dentro dele porque quero, mas porque não tenho muitas opções e nem energia, já não estou me importando se as pessoas acreditam ou não nos meus sintomas e incapacidade, estou no meu juízo perfeito, meu emocional funciona como o de qualquer outra pessoa, que diante de um pequeno problema a ser resolvido, tem suas dores de cabeça, enxaquecas, ou manchas roxas pelo corpo, ou apetite voraz, ou perda dele, portanto, não sou anormal, apenas uma pessoa que adquiriu enfermidades, doenças que infelizmente não são tão conhecidas e tratadas com respeito pela sociedade e também até pela área médica.

Mas acredito nos médicos que estão usando seus talentos para procurarem a cura ou uma forma de, nós fibromiálgicas, termos uma "qualidade de vida melhor".

Pensei que iria doer ter que reescrever mais um capítulo, mas não, por incrível que pareça, ao contrário.

Diante das minhas próprias palavras percebo que sou "mais uma fibromiálgica vitoriosa", pois lutei e estou na luta, com dor, e daí? FORÇA NA PERUCA!!!















2 comentários:

Suely B. Pedro disse...

“Compreendi que viver é ser livre...
Que ter amigos é necessário...
Que lutar é manter-se vivo...
Aprendi que o tempo cura...
Que magoa passa...
Que decepção não mata...
Que hoje é reflexo de ontem...
Que os “verdadeiros amigos permanecem“...
Que dor fortalece...
Aprendi que sonhar não é fantasiar...
Que a beleza não está no que vemos, e sim no que sentimos...
Que DEUS está acima de tudo...

Que o SEGREDO da vida é VIVER!“

Blog da Cris disse...

COMO ANALISAR A ESTATÍTICA DO BLOG, NÚMERO DE ACESSOS, MATÉRIA LIDAS, NÚEMER DE HORAS EM QUE A PESSOAS FICAM A LER O BLOG, COMO CONSEGUIR ESSA ESTATÍSTICA EM RELAÇAO AO BLOGUER E SOBRE A VALIDADE DE SEU CONTEÚDO/